ENTREVISTA AO PÁROCO DE SÃO
COSME E SÃO DAMIÃO DE GONDOAMR
PARA JORNAL OCASIONAL DA
CATEQUESE DO CALVÁRIO,
Por ocasião do Natal 2012
1.Como se chama?
Alípio
Germano do Couto Bessa Barbosa.
2.Quantos anos tem?
Cinquenta
e dois, feitos há dias.
3.Onde nasceu?
Eu
nasci num lugar chamado Lagarelha, em Vila Boa de Quires, Concelho do Marco de
Canavezes, da nossa diocese e distrito do Porto, portanto Douro Litoral.
4.Porque é que decidiu tornar-se padre?
Pertenci
ao grupo de jovens, era catequista e não me sentia satisfeito com aquilo que
fazia, achava que podia ajudar mais as pessoas se seguisse o Senhor a tempo
inteiro. Daí tomar a decisão de me consagrar totalmente, ao Senhor e sinto-me
feliz e contente com isso.
5.No próximo ano o Sr. Padre Alípio irá
celebrar as suas bodas de prata. Para si qual foi o acontecimento mais
importante nestes 25 anos?
Nestes
25 anos, do ponto de vista pessoal, foi a morte do meu pai e do ponto de vista sacerdotal,
o mais marcante foi estar com o Papa João Paulo II, tão pertinho quando ele
veio a Portugal.
6.Antes de vir para Gondomar em que Paróquias
esteve?
Muito
bem, eu estagiei na Paróquia da Senhora da Conceição, depois estive dois anos a
servir o nosso Bispo, o antigo, Dom Júlio Tavares Rebimbas e depois ele
enviou-me para três Paróquias em Felgueiras (Friande, Sendim e Jugueiros) e fui
lá pároco durante doze anos e meio. Depois já um outro Bispo, o Senhor Dom
Armindo, que também já faleceu, enviou-me para Pároco de Gondomar, onde estou
aqui há dez anos e meio.
7.Às vezes ainda pensa em constituir
família?
Não,
de facto essa opção nunca se me pôs, não quer dizer que às vezes não sinta
algum momento de solidão, mas a minha família são as pessoas com quem vivo e
aqueles a quem procuro servir e são esses que ocupam o meu pensamento
permanentemente… como poder estar ao serviço deles ….o que fazer, como ser… o
melhor possível.
8.Qual foi o seu percurso eclesial?
O
meu percurso eclesial, é o normal de qualquer rapaz. Eu era filho de pais
praticantes, cristãos, piedosos numa aldeia muito piedosa e mariana e foi a comunidade
que me marcou e que me educou verdadeiramente: quer a família, quer a
comunidade paroquial. Comecei por se leitor, depois fui para o grupo de jovens,
na altura não havia a catequese como nós temos hoje, ao quarto ano fiz a
Profissão de Fé. Recordo-me desse dia, foi nesse dia que fiz o discurso, na
altura era assim que se chamava. Depois grupo de jovens, fui crismado, depois
fui catequista. Entretanto, depois, senti que o Senhor me chamava, que podia
fazer mais, melhor com os irmãos, com os pobres, com as pessoas, evangelizar,
ser missionário, era o meu ideal. Fui para o seminário onde fiz o meu percurso
normal, estudando latim, grego, filosofia, depois teologia. Gostei imenso do
curso de teologia. Hoje, se não fosse padre gostava de ter feito o curso de
teologia, foi tão bom e bonito, conhecer Jesus melhor e a Bíblia. Depois fui
instituído Leitor permanente, depois Acólito, para mim foi um passo muito
importante. Sobretudo ser leitor porque foi o primeiro. O primeiro ministério
que eu recebi em ordem ao presbiterado, ao sacerdócio, depois de Leitor, Acólito,
Diácono e aí já é o sacramento da ordem. Diácono é o primeiro degrau do
sacramento da Ordem. O sacramento da Ordem tem três degraus: diácono,
presbítero e bispo.
E
fui ordenado diácono a 8 de dezembro de 1987 que é dia da nossa Senhora da
Conceição, Padroeira de Portugal, precisamente na Paróquia onde estagiava: a
Paróquia da Nossa Senhora da Conceição, no Marquês, Porto. Depois fiz o meu
estágio dois anos no Paço Episcopal, no coração da diocese, com o Bispo
Diocesano e os Bispos auxiliares. Foi uma experiência muito rica, embora tensa
e desgastante. Depois, fui ordenado presbítero (Padre) a 10 de julho de 1988
era também ainda o ano Mariano. Depois fui nomeado para três paróquias como já
referi. Fiz o meu curso no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto,
que tinha a sua sede no Seminário Maior da Sé. Foi após o meu último ano de
estudo no Instituto, que depois passou a ser a Universidade católica. Como Pároco
tenho procurado ir-me formando, nos retiros, as atualizações do Clero, alguns
congressos, semanas de estudos, aquilo que posso. Também tenho procurado
participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, já fui a várias, é uma
experiência muito boa, muito enriquecedora, que me tem ajudado muito na minha
fé e no meu amor ao Senhor e á Igreja. E pronto, aqui estou agora neste lugar
com esta idade.
9.Quem tem como referência?
Ao
longo da minha vida há naturalmente muitas referências como os meus pais, o meu
pároco, outros sacerdotes amigos que fui conhecendo ao longo da vida e que rezo
por eles permanentemente e ainda hoje me ensinam e inspiram. Uma referência
muito importante na minha vida foi o Padre Américo. Li muitos livros dele, como
português, como amigo dos pobres, um homem apaixonado por Cristo e pelo Homem,
um profeta e pedagogo pioneiro, é para mim uma grande referência.
10.Como era o Senhor Padre Alípio em
Criança?
Gostava
muito de estudar, custavam-me muito as férias, para mim as férias eram um sacrifício
pois ia estar sem a minha professora, ia estar sem os meus amigos, ia estar sem
ler, estudar, que era uma coisa tão engraçada, tão bonita. Sim, porque nesse
tempo não havia internet nem internet em casa, trabalhava mas não fazia aquilo
que mais gostava: estudar. Eu sou do tempo da lousa, não do tablet e do ipad. E
depois também tinha traquinices na escola, na catequese como todos. Nunca fui
bom a cantar nem no atletismo. Mas gostava de ver os vários desportos, de ler,
de passear e de música, de um bom concerto de uma banda de música, talvez por o
meu pai ter sido músico lá na minha terra. Tive sempre uma inclinação e uma aptidão
para gostar de música.
11. A banda do seu pai tinha algum nome?
Era
a banda de Vila de Boa de Quires, nome da terra de onde nós somos e que é a
única banda daquele concelho e já tem vindo tocar aqui várias vezes. O meu pai
tocava saxofone.
12.O que pensa fazer neste Natal?
O
habitual se Deus quiser, que é estar com os paroquianos, estar com a família
também, meditar um pouco, rezar e estar em comunhão com os que sofrem, os que
por esse mundo fora são perseguidos por falta de liberdade religiosa e não
podem celebrar o Natal. Estou-me a lembrar de Asia Bibi, no Paquistão, uma
jovem mãe e esposa que vai passar o seu quarto Natal na prisão só porque é
cristã. Toca-me muito, os cristãos perseguidos, os mártires da fé nos nossos
dias. E será assim o Natal com certeza, convosco, no Calvário e com a paróquia
aqui.
13.Qual a pergunta que nunca lhe
fizeram, mas gostava que lhe fosse feita. E qual a resposta?
Isso
é uma pergunta muito matreira, mas porventura esta:
-O
que é que as pessoas deixam em nós e nós deixamos nas pessoas, ao longo da
vida? Tenho contactado com centenas, milhares de pessoas em situações tão
difíceis, no sofrimento, como de alegria e esperança, festa e sonho, o que é
que elas deixam em nós? O que é que nós porventura deixamos nelas? Como é
com-viver? Ou viver-para!?
A
pergunta de facto, que nunca ninguém me fez, não é porque são questões
pessoais, mais íntimas, mais privadas da vida e do ministério do sacerdote, mas
que é muito importante de facto o que as pessoas nos dão em termos de
experiência, vivência, o que nós aprendemos com elas, isto seria a pergunta que
de facto nunca me fizeram.
E
a resposta é:
Se
eu hoje estou aqui e sou o que sou, devo-o a todos aqueles e aquelas doentes,
idosos, pobres, colegas, jovens, crianças, noivos, missionários que me ajudaram
a permanecer fiel a Deus e aos homens. E de repente lembro-me de vários que
pela sua fidelidade, pela sua amizade, até pelos conselhos que me davam, mesmo
sendo leigos, pelo respeito que tinham para comigo, de facto marcaram-me
profundamente, e dão-me força ainda hoje para continuar.
14.O que quer para o seu futuro?
Ter
saúde, procurar ser santo, evangelizar, espalhar a alegria e a esperança.
15.Acha que no futuro as crianças
continuarão a seguir a palavra de Deus?
Matéria
muito problemática. Realmente, pelo menos para os próximos tempos aqui na
Europa, senão invertermos a situação, a maioria das crianças não vai seguir a
Palavra de Deus, mas tenho esperança de que a humanidade, que tem inteligência
para pensar, irá reconhecer que este caminho de rejeição de Deus e do evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo, é um caminho que traz muito sofrimento,
suicídios, homicídios, falta de respeito pela vida e pela natureza, que
retomarão a boa nova de Jesus, para sermos muito mais felizes e vivermos em
harmonia uns com os outros e com a natureza.
Nota:
A Entrevista, conserva o seu carater de improviso e linguagem
coloquial.
Por quem conduziu a Entrevista, a data em que foi feita:
Inês, Catequisando do … Calvário, para uma Publicação pontual,
da Catequese do Calvario
18-12-2012
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